A história vitoriosa da Denyze Moraes nos chegou por meio de uma carta dela para o pequeno Davi de Fortaleza. Ela leu sobre ele aqui e resolveu lhe enviar uma mensagem e aos seus pais… Nesta carta ela conta a sua história. Um bebê como Davi, que nasceu portadora de Cardiopatia Congênita (Tetralogia de Fallot). Com uma diferença: A sua história começou na década 70 e hoje na idade adulta é uma mulher que conseguiu ir longe, mesmo e apesar do que teve que enfrentar numa época em que a medicina nem sonhava com a tecnologia que há hoje… Ser cardiopata não lhe impediu nem ao menos de ser mãe! E hoje ela pode dizer que é realmente uma VITORIOSA!.
Leiam a carta/história dela contada para o Davi, mas autorizada a publicação aqui.
Durcila Cordeiro
Adm. do Blog, Mãe da Bia, Cadu e Caio
“Querido Davi,
Estou do outro lado do Atlântico, em Lisboa – Portugal, mas recebi sua mensagem que graças ao bom Deus tem chegado bem longe. Quando a li, fiquei com lágrimas nos olhos ao lembrar que também passei por tudo que você tem passado há 40 anos atrás e Deus também deu-me a benção de poder ir a São Paulo por duas vezes, operar-me e ficar boa. Quando ouço os meus pais contarem o que passaram para ir a São Paulo operar-me e como tudo aconteceu, percebo o tamanho da aflição que eles e outros pais passaram e passam para conseguir dar uma oportunidade aos seus filhos. Por este motivo acho louvável e dou graças a Deus que existam pessoas como você, pequeno Davi e seus pais, que decidiram-se por ajudar a outros que talvez não tenham a mesma oportunidade que nós tivemos. Já assinei a petição com muita alegria.
Conto-lhe agora um pouquinho da minha vida quando pequenina como você…
Quando eu nasci, minha mãe e meu pai notaram logo que eu tinha algum probleminha, pois eu era muito roxinha, não conseguia comer porque ficava muito cansada e tinha muita falta de ar. Na minha época, nem os médicos sabiam bem o que eu tinha e por isso, meus pais tiveram de andar de médico em médico até descobrirem o que era. Foram muitas opniões e sugestões, mas eu só piorava. Até que um dia, em que minha babá estava a passear comigo nos braços e foi até a casa de outra criança que morava perto da minha e também era um bêbê. Ela chamava-se Ana Maria Fontenelle e era filha de um grande cardiologista cearence, o Dr. Luís Carlos Fontenelle. Quando ele foi saindo de casa e viu-me, pediu para a minha babá dizer aos meus pais que ele queria falar com eles. Daí, ele conversou com os meus pais e disse que eu tinha a “Doença do sangue azul”, que era a Tetralogia de Fallot e que eu precisava operar-me imediatamente pois eu poderia morrer em uma das minhas crises de cansaço e falta de ar. Ah, ele também disse que operar, somente em São Paulo no Hospital das Clínicas. Devo muito ao Dr. Luís Carlos e sou amiga até hoje da filha dele.
Com a ajuda de Deus e de pessoas como vocês, cheias de boa-vontade para como os que precisam, as pessoas foram ajudando-nos com o dinheiro para as passagens, hospedagem, pedidos para ser atendida no hospital que era público, indicações para médicos, enfim, lá fomos nós.
Eu tinha 1 ano e precisava ter 15 quilos para ir para a máquina coração-pulmão. Como eu não tinha este peso, não podia fazer a cirurgia de correção total e precisei fazer uma cirurgia chamada Blalock-Taussig. Que em linguagem bem rústica é, retirar uma pedaço da artéria subclávia (veia da perna esquerda) e desviar o sangue para a artéria pulmonar. Assim, o pulmão receberia mais sangue com oxigênio e eu poderia esperar um pouco mais pela minha correção total. Os riscos eram enormes e eu era um pingo de gente. Enfim, mais uma vez, graças a todos, o Dr. Zerbini, que na época era o papa neste assunto no Brasil, marcou a minha cirurgia e apesar de não ter podido realizá-la, foi feita com a equipe dele. Eu saí dessa melhor e deu-me oportunidade de viver mais quatro anos até quando o Dr. Luís Carlos disse, tá na hora, se passar de uma determinada época, depois já não poderá fazer mais. E aí, foi tudo outra vez, só que dessa vez a cirurgia era ainda mais séria e os riscos muito maiores.
Minha mãe lembra que quando estavam a despedir-se de nós antes de embarcamos para São Paulo dessa vez, uma pessoa chegou para ela, olhou para mim e disse, “Ela é tão bonita, volte Denyze”. Imagino o desespero dos meus pais. Eles na época tiveram de pedir licenças para tratamento de saúde e ficaram a receber bem menos do que recebiam, pois foram muitas idas e vindas a São Paulo. Em todas elas, só a viagem de avião para mim já era um risco.
Enfim, após fazer cateterismo e todos os exames possíveis, lá fui eu para a Beneficiência Portuguesa, hospital particular, mas que, a pedido do governador do Ceará ao governador de São Paulo, foi-me facultado realizar a cirurgia lá.
Mais uma vez, Deus abençoou-me e quem fez minha cirurgia foi o Dr. Adib Jatene e sua equipe, que na época começavam a destacar-se. Foi uma cirurgia de altíssimo risco, tive o meu coração nas mãos do Dr. Adib e graças a Deus e a todos, ao final de muitas horas de cirurgia, eu sobrevivi.
Passei alguns dias como uma velhinha, bem curvadinha no hospital e vivenciei outros casos de crianças com problemas cardíacos que até hoje lembro. Meus pais, coitados, ganharam cabelos brancos ainda jovens e minha irmã mais nova, coitadinha, ficou um bocado de tempo sem os pais, mas sobrevivemos a tudo e hoje eu estou aqui a contar a minha história.
Muitos anos depois, já adulta, fui fazer um ecocardiograma e ao sair, o médico que me atendeu chamou-me e ele estava diante de um casal jovem, com o filho nos braços. Ele disse para eles, que choravam, não fiquem desesperados, há cura, vejam aqui esta jovem, ela fez esta mesma cirurgia há 30 anos atrás e está aqui muito bem.
É verdade, tudo o que quis fazer, eu fiz depois de operada. E veja lá que eu acabei por ficar com uma sequela da cirurgia que é uma extenose pulmonar leve. Mas eu eu fiz muitos esportes como futebol, voley, natação, também fui bailarina, dancei muito, corria muito. Tive o meu filho, que nasceu normal, amamentei-o e nunca deixei de fazer nada na vida por causa da minha condição de operada do coração.
Este foi o meu relato, não muito detalhado, pois seriam páginas de detalhes, mas creio que, no meio de tantos relatos de pais com filhos com este problema, ler o relato de alguém que já passou por isso há muitos anos e está bem e viva, é um conforto e uma esperança.
Mais uma vez parabéns pela iniciativa e Deus os abençoe, Davi, Luciana e Edgy.
Beijos a todos, Denyze Moraes”
Adorei sua história e minha filha Valentina também fez a mesma cirurgia que vc com três dias de vida, hoje ela está com 2 meses e ainda estou na batalha , sei que ela tb vai ter que fazer outra cirurgia, quando eu não sei mas tenho muita fé. BJS